Para acompanhar o ritmo das águas, as aulas começam em janeiro e só param em outubro, quando o rio está seco e o transporte já não consegue levar os alunos para a escola.

No Norte do Brasil, as aulas de 2019 já começaram, para alguns alunos. O regime de águas do rio é que dita o calendário escolar.
A buzina avisa: o transporte chegou. A rotina de quem vive às margens dos rios na Amazônia é assim: para estudar, só se for de barco. É ali mesmo, no balançar do rio, que se faz o dever.
O ano letivo já começou para cerca de dois mil alunos de Manaus. As aulas dos estudantes ribeirinhos têm um calendário diferente, comandado pela subida e descida dos rios que ocorre em seis e seis meses.
Manaus é banhada pelo Rio Negro. De dezembro a junho, ocorre a subida do rio e, a partir de julho, ele começa a descer. A diferença entre os níveis máximo e mínimo pode chegar a 16 metros.
Para acompanhar o ritmo das águas, as aulas começam em janeiro e só param em outubro, quando o rio está bem seco e o transporte já não consegue levar os alunos para a escola. E para garantir os 200 dias letivos, exigidos por lei, nada de recesso no meio do ano.
Os alunos também precisam ter aulas durante alguns sábados
“Quando o mês tem cinco sábados, a gente trabalha três sábados. Quando o mês tem quatro sábados, nós trabalhamos dois sábados”, explicou a diretora de escola Maria do Céu Oliveira Brasil.
Depois de 16 anos em escolas ribeirinhas, a professora Neida Neves da Silva já se acostumou com as férias desencontradas.
“Não tem como eu encontrar com minhas colegas, as outras professoras, porque elas estão trabalhando. Aí a gente arranja um jeitinho para se juntar porque, quando elas estão de férias, eu estou trabalhando. Mas a gente sempre arranja um jeito de se encontrar”, contou.
Para fazer esse calendário funcionar, pais e professores precisam trabalhar juntos.
“A gente faz uma jornada pedagógica com os professores, e os pais já são conscientizados que as matrículas são no início do ano, no mês de janeiro, e as nossas escolas já ficam preparadas, 29 escolas, para receber tanto alunos quanto professores”, disse Mário Nunes de Moraes, gerente de Divisão Distrital da Zona Rural.
Na Amazônia, a educação precisa abrir caminho pelos rios.
Fonte: G1